COMUNICADO


O Clube Enxadrístico de Pinheiros retoma suas atividades com protocolo de segurança determinado pela Vigilância Sanitária: abriremos para o público geral aos sábados das 15:00 às 17:00h. E aos domingos, das 09:30 às 12:00h; Outros dias e horários deverão ser combinado com os membros, com aprovação da Diretoria .
Se tiver quaisquer sintomas de resfriado, por gentileza, não compareça.

Gigantes Têm Pés-de-Barro


(por João Carlos Almeida) 2006

Ao iniciar a grande final do municipal de Pinheiros, acreditava que Paulo Galdino, Fábio ou Weslley eram os que tinham mais possibilidades de conquista do título.

Devido a questões pessoais, durante este ano meu desempenho tem sido apenas razoável, bem abaixo do que tive em 2004.

Entretanto, todos os jogadores achavam que somente Galdino e Almeida eram os verdadeiros favoritos. Também, são os únicos Fides da cidade...

Estava chovendo muito;  tive que deixar a bicicleta em casa e ir a pé para a competição (na época não tinha carro), e, como as ruas próximas ao local não são pavimentadas (cidade do interior, ts, ts, ts), restava só a lama pelo caminho.

Meus tênis cheios de barro (assim como os do Galdino) pareciam reproduzir o título acima... será que a profecia do “presidente” (Pablyto Robert, presidente da Fesx) se realizaria? Afinal, uma semana antes, no site da Fesx, ele questionava: “Vai dar Galdino, Almeida ou Zebra?” O que me chamou a
atenção neste torneio é que ninguém saiu invicto!

Primeira rodada sem surpresas (ou quase)

PRIIIIIII..... e o árbitro autoriza o início do jogo! Seguuuura peão!!

Na mesa 1, para a surpresa geral, Galdino “cagava um balde de sangue” para evitar uma derrota iminente. Cassini, de brancas, manteve constante pressão, ganhando logo a qualidade. Todos afirmavam: Cassini ganha.

Eu, com minha vasta experiência de longos 5 anos de xadrez (kkk), balançava a cabeça negativamente e afirmava: “o Galdino está melhor, ele é muito forte em finais. O Cassini não vai resistir”.

Não deu outra. Galdino consegue uma posição de empate e o nervosismo derrotou seu adversário, que cometeu um erro terrível. Meu amigo Eduardo Pelição já dizia, noutra crônica: “esta é a diferença entre um campeão e um aspirante”.

Enquanto isto, na mesa 2, eu, de brancas,  triturava o jovem Deleon com um ataque Osama Bin Laden. No lance 13, dei-lhe um peão envenenado, e caiu a torre de h8. No lance 38, outro peão envenenado, e caiu a outra torre.

O engraçado é que, com 2 peças e 3 peões a menos, ele ainda me ofereceu empate! Tive que cravar a unha do indicador direito no pé da unha do polegar (um truque que aprendi para evitar desrespeitar o adversário), para conter a gargalhada que começou a se formar...

Pode-se dizer que a única surpresa foi o experiente Job ter caído frente ao jovem Luciano, na mesa 5.

Segunda rodada: os gigantes continuam o massacre

Enquanto Galdino amassava Maikon, na mesa 1, eu ganhava um presentão do Alex.

De pretas, comecei timidamente, respondendo e4 com a6!? Mas, passado o susto, iniciei um ataque violento na queen size, que me rendeu um pangaré grátis! Como dizem, de graça até injeção na testa! Weslley e Fábio passaram fácil por seus oponentes.

Terceira rodada: os Golias caem...

Depois de alguns lances, ouvi Galdino, na mesa 1, oferecer empate para Fábio, que recusou. Não quis ver detalhadamente a posição e voltei a me concentrar na minha partida contra Weslley Teixeira.

Após debilitar a ala da dama do adversário, forcei o ganho de um peão, ameaçando ganhar outro!

Teixeira se levantava constantemente, sinal de que estava preocupado. Vi que ele tinha disponível um sacrifício brilhante de peão em e4, que me forçava a recuar, jogando Be2.

Neste momento, meu celular vibrou (vale ressaltar que estava no modo silencioso[naquela época não havia mate celular]) e levei um tremendo susto, dando um pinote da cadeira. Weslley (que, acho, desconhece a técnica da unha no polegar) deu um sorriso...

Saí sem graça para o banheiro, onde atendi o “telefoninho”. Era o Walter, querendo saber a quantas andava o torneio. Logo que retornei à mesa, meu adversário ainda pensou um pouco e jogou o temido e4! E o capivara aqui esqueceu que tinha que recusar. Putz!

Logo em seguida, meu adversário fez Df4, que me faria perder peça ou qualidade.

A partida estava liquidada ali, apesar de minha resistência por mais alguns lances. Davi havia vencido a primeira...

Enquanto eu e o Teixeira fazíamos a análise post mortem, o jovem Luciano (aquele que derrubou o experiente Job na primeira rodada) chegou e disse: “acho que Fábio ganha!”.

De novo, nem me preocupei, pois, assim como na rodada 1, achava que o Galdino chegaria melhor. Passados alguns minutos, o segundo Golias caía... Agora só Weslley Teixeira e Fábio Prado lideravam.

Na mesa 3, Cassini reloaded depenava Job. Chamou-me a atenção a mesa 7. Num encontro familiar, Alessandra Galdino dava uma chinelada no enteado Gabriel Galdino
(MADRASTA MÁ!).

Quarta rodada: altos e baixos

Enquanto jogava na mesa 2 contra Paulo Galdino, Weslley e Fábio se digladiavam na mesa 1. Para Weslley só interessava a vitória, pois sabia que o empate lhe conduziria fatalmente ao encontro com Galdino, caso este me vencesse.

Mal tinha saído da abertura, e veio o árbitro com uma péssima notícia: “o monitor desligou sozinho”. Isto só significava uma coisa: queimado!

Levantei para conferir, já temendo o pior. Não deu outra. Tive que buscar um extra para terminar o torneio. Seria este o motivo de ter levado outro tático?

Desculpas a parte, Galdino mereceu a vitória; o que deixou Teixeira mais apreensivo ainda. Agora, era vencer ou vencer.

Fábio já havia oferecido empate 2 vezes, em vão. Depois de alguns lances, Weslley parecia pior e ofereceu empate! (é melhor empatar e enfrentar Galdino do que perder o ponto inteiro). Porém, de picardia,  Fábio recusou, e recusou mal, pois seu lance levou a partida de novo ao empate.

Mesmo assim, lutavam ferozmente, enquanto eu e o Galdino mergulhávamos em análises paralelas, com todas a linhas conduzindo ao empate.

Muitos lances após, sobraram bispo para cada lado, com peões caindo inevitavelmente, e, mesmo assim, continuavam jogando!! Galdino arrancava os cabelos, dizendo para mim: “por quê queimam neurônios à toa? Tá empatado!”.

O fato me fez lembrar um sujeito que nunca aceitava o empate, mesmo sobrando apenas rei x rei – “vou jogar mais um pouquinho, talvez eu ache uma posição de mate!”.

Por fim, quando restou apenas um mísero peão de torre, com rei dominando a casa de promoção, foi firmado o empate. UFA!!!

E na mesa 3? A “zebra” continuava ameaçando. Cassini vencia mais outra!

Quinta rodada: Fênix renasce

Galdino tinha que ganhar de Weslley Teixeira e torcer para Cassini derrotar Fábio, para levar a decisão para o ping. O empate daria o título inédito para Fábio, e acho que isso pesou, pois ele jogou apaticamente. (Cassini reloaded vence novamente!).

Eu passei fácil pelo Assis, garantindo a última vaga para a Copa dos Campeões.

Enquanto realizava um simultânea nas mesas afastadas dos embates, dava uma espiadela para ver Weslley em sua tentativa de vencer Galdino. Em vão, pois o então tricampeão se saiu melhor, recuperando a oportunidade de obter o tetra.

Empatados com 4 pontos, Cassini e Galdino foram para o desempate. Será que daria zebra?

Não deu. Galdino tetracampeão municipal de xadrez! E um desempenho formidável de Cassini, que surpreendeu a todos, chegando em segundo lugar na competição. Prado ficou em terceiro e Weslley em quarto. A quinta vaga ficou para Maikon Souza.

A nota curiosa do torneio...

Fábio Prado, um dos finalistas, também é um dos vigilantes da escola. Sábado era seu dia de trabalho, mas poderia jogar livremente.

Na hora do jantar, todos saíram, ficando apenas o vigia Fábio. Almeida iria jogar a próxima partida contra Weslley. Até aí, tudo bem.

Eis que, quando Almeida retorna do jantar, recebe de Fábio a seguinte notícia: "Cara, não é que, enquanto fui à cozinha fazer um lanchinho, entrou um menino aqui e roubou 3 peças de um jogo oficial?! Ouvi o barulho e sai à porta”.

E continuou: “Ao me ver, ele correu, levou um escorregão e deixou cair a torre, mas conseguiu fugir com o bispo e o cavalo". Pronto. Motivo de piada quando os outros competidores chegaram.

Para o azar de Almeida, as peças roubadas foram do jogo do Weslley!!!

Daí, uns afirmavam que o “bichano” havia pago o moleque para seqüestrar as peças, outros que, enquanto o “dormilante” noturno Fábio lanchava, o larápio enfiou o bispo dentro de um saco de linhagem, montou no cavalo e saiu em disparada, não sem antes jogar uma isca (a torre) para distrair o comilão. Que coisa...